segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

UM PASSEIO PELO SERTÃO


Quando de um trabalho nos PSF´s no município de Senador Pompeu, tive que visitar vários lugares e, mesmo sendo de uma região também árida, fiquei vislumbrado com tanto brilho para os meus olhos e um gosto a mais para a alma. Pareceram-me comum os lugares, mas no que consegui mergulhar ficou na minha imaginação cada palmo, cada poeira, cada pássaro. Se eu fosse filosofar para me embrenhar nas profundezas do que o sertão traz de belo, ficaria em dois patamares de que me lembro até então: a discrição pela ótica de Guimarães Rosa, em Grande Sertão, Veredas e de Euclides da Cunha em Os Sertões. Não que eu venha a conduzir-me por eles, mas para ter a certeza de que quem precisa escrever algo que passe pelo menos horas entre matos, caatinga, carcará, rolinha, estradas e veredas. Não esquecendo, claro, do povo simples, audaz, guerreiro e forte.
Passei por caminhos que pareciam levar-me a nada, mas esse nada era tudo aos olhos de quem pertinentemente precisa passar por isso nem que fosse para outro tipo de trabalho. Caminhos poeirentos, de pedras e aos lados de matos secos e cinzentos. Aqui e ali uma casa que se erguia e na frente dela uma paz, uma tranqüilidade de fazer qualquer pessoa sentir-se intruso, alheio e doutro mundo. Casas de todos os tipos, da menor ao casarão. As menores com sua simplicidade, de taipa, de barro e os casarões majestosos. Casas abandonadas entregues ao mato denso, às amarguras do tempo. Veredas que também me deixavam imaginar para onde iam, quem por elas seguiam. E o motorista que nos conduzia a cada lugar peculiar, nos dizia das histórias: “um crime passional, quando um marido enciumado mata a esposa a pedradas”, e se vê um túmulo de chamar a atenção e de espinhar os olhos num contraste à luz do sol. “Uma mulher que se suicidou numa ribeira, por ter sido abandonada praticamente no altar pelo noivo, e que nas noites de lua cheia surge para quem passa pelo caminho, subindo nas motos, nos cavalos e qualquer outro tipo de veículo, pondo medo ao lugar.” São essas histórias que fincam na minha mente.
Outro importante detalhe é a cara do povo, da gente do lugar, onde se percebeu os traços marcados pelo sofrimento, pela luta com a terra e os animais. Gente ainda trazendo no lombo dos animais a água, o leite, a lenha. Gente que na varanda cata piolho dos filhos rechonchudos, aparentemente despreocupada com a vida. Gente que mergulha nas águas dos açudes em finais de tarde, que caça passarinho com estilingue, que ordenha a vaca nos currais. Parece um cenário tantas vezes visto, mas não é só isso que impera e que vislumbra, senão a necessidade de que haja um tempo assim, um momento assim para que uma reflexão surja e de quanto precisamos, pelo menos uma vez na vida, depararmos com cenas tão burlescas e imprescindíveis. Cenas de uma pequena árvore com cinco grandes ninhos, de um carcará alçando vôo em busca de alimento, de graúdas mangas dependuradas em sombrosas mangueiras, de uma mãe de grandes peitos amamentando a cria, um menino com os pés descalços atrás de uma galinha, um bezerro a mungir desmamado.
Lugares com nomes interessantes para quem busca nos seus escritos batizar seus lugares fictícios: São Joaquim, Estreito, Contendas, Jatobá, Riacho do Meio, Lajedos, Rosário, Codiá e tantos outros.
A cada entrada nesses lugares era como se estivesse adentrando num filme antigo, numa novela de época, num romance de Gabriel Garcia Márquez ou de Guimarães Rosa. Lugares que só a eles pertencem por serem suas as casas, as gentes, os animais, o ar, a poeira, o sol e a lua.