sábado, 16 de agosto de 2008

CANTAR, CANTAR


Aprimorar a voz, temperar a garganta, amiudar os olhos, soltar o som. Parecem ações comuns, de pessoas comuns, mas não o é. Sentada ao meu lado, então, nessa semana, uma cantora. Tem seus cabelos louros, olhos azuis à La lentes, e na mente um gosto adocicado pela música. No primeiro instante, para mim, uma mulher igual a tantas, para depois saber dos seus ideais. Claro que todos nós temos um ideal, temos algo a perseguir para podermos validar a sombra do sol, mas destaco mais uma pessoa nesta busca incessante pelo futuro. Hoje ela é cantora de uma banda de forró há pelo menos dois meses, mora em Fortaleza, saída do Crato em busca de sucesso e do que mais gosta de fazer: cantar.
Cantar, cantar, não como uma cigarra do conto de La Fontaine, pois a busca do perfeito está no trabalho também, mas como uma idealista na voz rouca.
Volto, então, a imaginar, naquelas tantas pessoas ali que têm seus ideais, num indo e vindo semanal e que ora conseguem, ora desistem, ora riem, ora choram. São tantas, como cigarras e formigas, como lutadoras e desbravadoras.
A cantora da banda de forró, nos seus poucos anos, nos seus gestos naturais, no seu jeito simples, ver-se ali, numa poltrona de ônibus, quem sabe, como um momento de antecâmara, antevendo o futuro, falando do seu amor pelo canto, da sua experiência pouca, mas com muita fortaleza de espírito. Quem sabe, e talvez demore muito, vê-la novamente agora com enorme sucesso como cantora de uma grande banda, distribuindo simpatia e poesia no seu canto.