quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

AS IMAGENS


Lendo uma resenha literária numa revista cultural sobre o livro “O homem em queda”, do norte americano Don DeLillo, onde o mesmo cria suas obras a partir das imagens que ver, principalmente em fotos editadas por jornais ou internet, pensei cá comigo: mas não é somente ele que faz isso. Mas, o interessante é que as imagens ele as toma emprestadas e cria suas obras, buscando exprimir o terror. São imagens que, mesmo estática, ele as movimenta a partir da sua imaginação. Porém, como o norte americano citado está em alta devido o tema de fundo ser o fatídico dia 11 de setembro ainda em voga, é bom salientar que muitos outros escritores também usam imagens para a sua criação: Gabriel Garcia Márquez e Erico Veríssimo. O primeiro utilizou de um homem parado no cais com ares de quem espera algo, onde no semblante pairava certa angústia. Gabriel, a partir daí escreveu “Ninguém escreve ao Coronel”, uma novela que mexe com o leitor do começo ao fim e que flui facilmente e quando se espera que continue ela acaba e fica no ar aquela vontade de que assim nunca o fosse. Já Erico Veríssimo ver estampada num jornal uma foto de vários caixões na porta de um cemitério e daí anos depois cria sua obra magnífica: “Incidente em Antares”. Um romance que mistura ficção e realidade, além do fantástico. Mortos insepultos, aproveitando a greve geral da cidade, inclusive dos coveiros, saem às ruas espalhando medo, terror e jogando nas caras dos moradores realidades que eles nunca queriam saber.
Muitas vezes, então, as imagens falam demais e outras nos deixam pensativos. Durante todo este ano de 2007 as vi muitas e com outros olhos. Vi pessoas que me inspiraram a vontade de escrever; locais que me chamaram a atenção pela sua simplicidade em recônditos mais sofridos; de gols de craques; de acidentes; de vida palpitando por todos os lados; de sinistros; de crises e lágrimas; de incidentes, de acidentes, de risos, de beijos e desejos, de poesias ao vento como folhas no outono; vi cenas que gelaram a alma, outras que esquentaram o coração; vi os olhos marejados de lágrimas de gente recebendo presentes, do emprego alcançado, do sonho realizado; vi um dois mil e sete da cor do pecado, de impostos caindo, de políticos iguais, de catástrofes e sangue; vi e ouvi músicas que falaram demais, mas que empobreceram demais também; vi pássaros arribando, buscando outros ares; vi moleques sem camisas pulando de pontes, de aves de rapina no vôo clássico, de vacas magras e raposas mortas no asfalto; vi o tempo passar nas brancas nuvens de céus azuis, de horizontes avermelhados como sangue derramando em cascata; vi a barata ser morta pelos pés do homem (antes que ela se metamorfoseasse no próprio homem); vi o bandido ser preso, algemado para trás, inerte, mas logo crente da sua soltura (pobre justiça), do político ao rir da cara do povo e este povo rir da cara dele (vingança sensível); vi tantas coisas, tantas cenas, tantas imagens, que diria que finalmente não vi nada, além de você: você Maria. Maria dos meus sonhos, da minha pele, da imagem que gravei nos meus olhos no primeiro instante que a vi. Espero vê-la no próximo ano e no outro e no outro e sempre. Você Maria bela, linda, feita mulher que me enche de paz e de fortaleza para saber reter nas minhas retinas as imagens dos seus olhos. Vi através deles, como espelho d´água os reflexos de tudo isso, lado a lado, frente a frente, como jamais vi e que me faz transcrever para o papel os escritos que os criei e os criarei.