.Cuando me paro a contemplar mi estado
y a ver los pasos por do m'han traído,
hallo, según por do anduve perdido,
que a mayor mal pudiera haber llegado;
....mas cuando del camino estó olvidado,
a tanto mal no sé por do he venido;
sé que me acabo, y más he yo sentido
ver acabar conmigo mi cuidado.
....Yo acabaré, que me entregué sin arte
a quien sabrá perderme y acabarme
si ella quisiere, y aun sabrá querello;
....que pues mi voluntad puede matarme,
la suya, que no es tanto de mi parte,
pudiendo, ¿qué hará sino hacello?
(Garcilaso de La Vega)
Quando
o amor é muito tênue ou nele se contém apenas traços indeléveis, ou quando nele
se contem apenas o nome; quando há maravilhas por trás ou paralelo se subsai os
grandes dias, vale a pena. Mas quando o amor está apenas na carne e dela se
nutre o espasmo, nada vai além da própria carne: o que está na vez é apenas o
corpo. Mas, senão o corpo, a alma estaria vazia?
Teria o
indivíduo ter que se entregar com arte a própria arte de amar? E o que é a arte
de amar, senão se entregar? Mas para se entregar, seria preciso a alma, além do
corpo? Seriam os dois indissociáveis por natureza, ou o homem tende a querer
interpor-se para achar que os dois são um só?
Se as
dúvidas cabem a quem escreve ou aquele que ler, fica-se no ar para mais
mistérios. Mas amar é um verbo muitas vezes conjugado e pouco vivido. E o tempo
discorre a mostrar que ele (o tempo) tem razão: pouco se espera para amar,
porque o que há de mais forte é a realidade. E ela tende a mostrar-se face a face como ingrata e cruel.
Há quem
diga que o tempo é curto, a vida é curta e o tempo vivido somente. Para ambos o
importante é viver: amar tão somente e dele viver naquele instante. Por que cobrar,
por que corrigir quando o erro faz parte de todos? Por que infringir a lei da
oferta e da procura, principalmente para quem nada oferta e tão pouco se
procura?
Vale a
pena os passos, como vale a pena os abraços, os sorrisos, os orgasmos, o hiato
e o hálito. Vale a pena tudo, porque tudo nunca se sabe. Vale a pena viver,
quando a morte está sempre nos calcanhares. Caminhar é preciso e o ar é
preciso, a amizade é preciso, o “amanhã” mais ainda.
Amar
sim e por demais e sempre. Nesse contexto, deve-se amar a tudo e a todos, do
mais simples bocejo até a um piscar de olhos. O mais simples tem que se
referenciar, e dele não tornar complexo, por quê?
Complexidade
faz parte dos fracos e dos que não procuram saídas para o que mais lhe aflige.
Complexidade é um ritual que se mistura no âmago e vem à boca e aos outros
sentidos. Nada mais.
Paradoxalmente
à frase desta crônica, “não me acabarei, jamais, pois entregar-me por que,
porque amar é mais do que se entregar, é entender, é nutrir, é se espalmar aos
ventos e aos dias, e nesse dias farei deles arte, para ganhar e me inteirar por
completo.”
“... Porque quem ama nunca sabe o que
ama
Nem sabe por que ama, nem o que é
amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...”
Fernando
Pessoa (O Guardador de Rebanhos)