Sábado, manhã de verão. Uma calçada, uma sombra, brisa fresca: um corpo estendido no chão. Parece poesia, mas o corpo estendido no chão está ali a um passo, a um gesto de todos que passam pela rua. Incrível como chama a atenção de todo mundo e todo mundo passa de raspão. Não é da família, mas todos olham, comentam, uns sentem repúdio, outros pena. São dezenas de pessoas que passam e não fazem nada, porque fazer implica em ser co-autor. Co-autor de um cenário, onde o corpo que está ao chão, não se sabe dormindo ou morto. É um corpo qualquer, um bêbado, um desequilibrado, um ente a mais à distância da multidão. Todos olham, quem passa, mas sequer param. Comentam, riem, sérios, passam. Um carro de som passa com propagandas políticas, mas o corpo ainda inerte. Mãos postas sobre o peito, naquele gesto mórbido. Talvez o caixão seja a própria calçada, os passantes a vida, o som os sonhos, os olhos semicerrados: inércia.
Um passa e pergunta: “esse cara aqui, quem é.” Outro responde: “quem sabe?” O primeiro instiga: “que ressaca, que porre.”
Fica por isso mesmo, se vai. Agora passam vendedores ambulantes, meninos aos gritos, e o homem não se dá conta. Mas uma mulher quebra a regra: pára, olha, olha, pensa, coça a cabeça, dura uma eternidade para as convenções normais, parece querer fazer algo, talvez querendo saber quem é, quem sabe um conhecido, a jurar tê-lo visto em algum lugar... Desiste, não o conhece, segue seu caminho, mas ainda olha para trás, coça a cabeça.
Sol castiga, alto, mas não o atinge, ele está sob uma marquise. Parece que na noite anterior, sabia que dormiria ali e o sol não o incomodaria. Bêbado inteligente.... Bêbado? Todos pensam assim, muitos pensam assim, muitos repudiam assim, tantos escarneiam assim. Mulheres passam, fingem não ver, olham de soslaio, e os olhos sem querer buscam outras partes: mais que inertes. Ele, deitado, está sem camisas, os chinelos abandonados em desordem. Agora, se vira, se emborca. Está vivo. A sujeira da calçada traça-lhe um mapa nas costas, nas pernas, nos braços. O solado do pé tem negritude do chão.
O mundo em volta corre, a o vento sopra, as horas passam, e o homem dorme. Os políticos traçam seus planos, as pessoas buscam suas vidas, suas labutas, o seu quotidiano. Mas o homem não, sequer sabe onde está, decerto. Mais que uma preocupação, não imagina nada, não se lembra de nada, não se importa com os olhares e os comentários. Logo estará bom, e certamente se erguerá, as mãos e os pés serão seus sustentos e as paredes também. Deverá pensar em nunca mais beber, pois a ressaca lhe fustiga as entranhas, arranca-lhe os miolos da cabeça em dores... Jamais porá um gole de cachaça na boca.
Isso pensa o autor, mas o corpo que se ergue, que tateia com as mãos as paredes, que anda trôpego, lá na esquina, ao invés de seguir seu curso ao dobrá-la, entra na venda. Certamente sabe que ali não é sua casa, mas outro refúgio. A cachaça e a ressaca são suas adoráveis companheiras.
Um passa e pergunta: “esse cara aqui, quem é.” Outro responde: “quem sabe?” O primeiro instiga: “que ressaca, que porre.”
Fica por isso mesmo, se vai. Agora passam vendedores ambulantes, meninos aos gritos, e o homem não se dá conta. Mas uma mulher quebra a regra: pára, olha, olha, pensa, coça a cabeça, dura uma eternidade para as convenções normais, parece querer fazer algo, talvez querendo saber quem é, quem sabe um conhecido, a jurar tê-lo visto em algum lugar... Desiste, não o conhece, segue seu caminho, mas ainda olha para trás, coça a cabeça.
Sol castiga, alto, mas não o atinge, ele está sob uma marquise. Parece que na noite anterior, sabia que dormiria ali e o sol não o incomodaria. Bêbado inteligente.... Bêbado? Todos pensam assim, muitos pensam assim, muitos repudiam assim, tantos escarneiam assim. Mulheres passam, fingem não ver, olham de soslaio, e os olhos sem querer buscam outras partes: mais que inertes. Ele, deitado, está sem camisas, os chinelos abandonados em desordem. Agora, se vira, se emborca. Está vivo. A sujeira da calçada traça-lhe um mapa nas costas, nas pernas, nos braços. O solado do pé tem negritude do chão.
O mundo em volta corre, a o vento sopra, as horas passam, e o homem dorme. Os políticos traçam seus planos, as pessoas buscam suas vidas, suas labutas, o seu quotidiano. Mas o homem não, sequer sabe onde está, decerto. Mais que uma preocupação, não imagina nada, não se lembra de nada, não se importa com os olhares e os comentários. Logo estará bom, e certamente se erguerá, as mãos e os pés serão seus sustentos e as paredes também. Deverá pensar em nunca mais beber, pois a ressaca lhe fustiga as entranhas, arranca-lhe os miolos da cabeça em dores... Jamais porá um gole de cachaça na boca.
Isso pensa o autor, mas o corpo que se ergue, que tateia com as mãos as paredes, que anda trôpego, lá na esquina, ao invés de seguir seu curso ao dobrá-la, entra na venda. Certamente sabe que ali não é sua casa, mas outro refúgio. A cachaça e a ressaca são suas adoráveis companheiras.