Saio, nesta semana, do ônibus para observar uma passagem que me veio à mente, embora deva ter lembrado dela ainda no assento do veículo.
Há um ano, época da Semana Santa, tive uma dessas raras oportunidades de ganhar algumas horas em conversas com um caboclo do sertão. Na oportunidade o negro das nuvens não se fazia tanto como agora neste ano de 2008 cá pelas bandas do Cariri. E vi, entre umas palavras e outras, o marejar de lágrimas nos cantos dos olhos do bravio sertanejo, onde se preocupava pelas escassas chuvas e já se vendo pelo espalmar do campo a timidez do verde perdendo sua cor e com isso o legume ameaçado se perder.
Tomei emprestada a situação e fiz esta crônica-poema que na época retratou bem o cenário vivido:
1. Nito Paixão, de paixão pelo chão, chora,
Por não ver no céu, nuvens negras,
Nem ventos que tragam esperanças.
Pelo campo, sementes semeadas
Ao redor, chorosas crianças
E no espaldar das mãos, grandes rugas
E nos olhos lágrimas mais que salgadas
E agora?
Há um ano, época da Semana Santa, tive uma dessas raras oportunidades de ganhar algumas horas em conversas com um caboclo do sertão. Na oportunidade o negro das nuvens não se fazia tanto como agora neste ano de 2008 cá pelas bandas do Cariri. E vi, entre umas palavras e outras, o marejar de lágrimas nos cantos dos olhos do bravio sertanejo, onde se preocupava pelas escassas chuvas e já se vendo pelo espalmar do campo a timidez do verde perdendo sua cor e com isso o legume ameaçado se perder.
Tomei emprestada a situação e fiz esta crônica-poema que na época retratou bem o cenário vivido:
1. Nito Paixão, de paixão pelo chão, chora,
Por não ver no céu, nuvens negras,
Nem ventos que tragam esperanças.
Pelo campo, sementes semeadas
Ao redor, chorosas crianças
E no espaldar das mãos, grandes rugas
E nos olhos lágrimas mais que salgadas
E agora?
2. Sementemente nos olhos de pavor,
Vendo os grãos soterrados desde então.
Paixão que é Nito, em grito de terror
Por não ver grãos transformados em colheita,
Por uma desfeita do destino
Chuva que não vem dar evasão
Aos gostos de uma vida em desatino
E que chora.
3. Colher o milho, debulhar os grãos,
Moer sentimentos, comer de sofreguidão,
Remoer as chuvas, espalhar as rugas,
Transformar o mal em tácitas fugas,
Esperar os ventos e as suas bonanças,
Olhar para a mulher, afagar as crianças,
São as coisas mais simples da paixão de Nito,
Fica dito:
4. Porque de grãos não poder haver colheita;
Pela vida fará de tudo para ser semente,
O que da mente virá a vida feita
Aos montes pelo seu torrão.
Nas mãos outras mãos de guarita,
Porque sabe que colherá sementemente
Uma roça de amor do rico chão
E das delícias que vêm da vida.
Anchieta Mendes
12/04/2007
Moer sentimentos, comer de sofreguidão,
Remoer as chuvas, espalhar as rugas,
Transformar o mal em tácitas fugas,
Esperar os ventos e as suas bonanças,
Olhar para a mulher, afagar as crianças,
São as coisas mais simples da paixão de Nito,
Fica dito:
4. Porque de grãos não poder haver colheita;
Pela vida fará de tudo para ser semente,
O que da mente virá a vida feita
Aos montes pelo seu torrão.
Nas mãos outras mãos de guarita,
Porque sabe que colherá sementemente
Uma roça de amor do rico chão
E das delícias que vêm da vida.
Anchieta Mendes
12/04/2007