sábado, 5 de julho de 2008

ANSIEDADE



Temo pelo que há de vir, o porvir, a morte. Acredito que não só eu, mas todos os mortais. Todos, quase sem exceção, sentem-se assim, indiscriminadamente temerosos pelo que há de vir, absolutamente. Não quero com isso demonstrar nessas palavras semanais – aliás, estive ausente por bom tempo – uma dose, uma pitada de pessimismo. É porque o mundo de hoje e em cada esquina se mostra traquino, inconseqüente por conta das misérias, do medo, da violência golpeante. Mas, não quero paginar esse preâmbulo assim tão verossímil, mas cauteloso, senão.
Estou no ônibus, como sempre digo, semanalmente. Por isso, observações de bordo vem à tona uma nova vez agora com outros olhos. E tento ou enxergo mesmo quase todos os movimentos dos passageiros nessas viagens de dez horas. Entre uma música do mp4 colado nos ouvidos, ou uma leitura de um livro em pleno solavanco – vou de encontro às normas de saúde para minhas retinas – assisto a todos os tipos de ações, vozes e compulsões de tantos. Vejo gente simples, gente besta, gente. Vejo vômitos de mulheres enjoadas derramarem-se em assentos, em corredores, em sacos plásticos, nos pais até. Vejo reclamações de freios estridentes, de bagagens que foram trocadas, de celulares que tilintam em demasia, principalmente quando o veículo está prestes a chegar aos destinos. E é aí que me finco e retrato esta crônica: a ansiedade.
Por que – me pergunto – boa parte dos passageiros não agüentam de ansiedade ao ver que sua parada está bem ali? Não agüentam em permanecer sentadas enquanto o veículo pára? Antes mesmo que o último freio seja acionado, já tantos estão quase no colo do motorista, querem chegar primeiro do que o ônibus. Na rodoviária, principalmente, os corredores ficam lotados de gente em pé. Ora, todos sabem que ali é o final para eles, e por que não permanecem sentados até o final? Seria o caso de não mais suportarem tanto tempo na climatização do veiculo, ou do enjôo que arrancou quase as tripas durante o percurso da viagem? Mas nem todos enjoam, nem todos se cansam. O que se nota é aquela vontade enorme de estar em terra firme. E fico pensando como seriam essas pessoas num avião. Em pé, seguros por um bastão esperando a aterrissagem.
Ansiedade, tempos modernos, tempos de loucura, de medo do que virá, de terror ante as próximas horas. O que se vê são pessoas ansiosas, apressadas e muitas com o gosto de estar em vantagem sobre as outras. Descer primeiro significa ganhar tempo, ser o primeiro de uma fila inconcebível. Não sabem elas que a morte escolheu a todos, somente a ela lhe cabe o dia, a hora e o local? Mas parecem que muitos querem se antecipar a isso, mas eu não, nem tão cedo espero encontrá-la, mesmo sabendo que o final da linha está ali, na rodoviária. Prefiro ser o último, com certeza e descer tranqüilo, sem pressa.