quinta-feira, 17 de julho de 2008

ARRAIÁ FORA DE ÉPOCA?


Nos últimos dias, não há muito que falar nas viagens, de dentro do ônibus para o mundo coisas que são vistas. Não as vi ultimamente, porém tenho que ir um pouco mais longe para enaltecer outros ares.
Passamos do mês de junho, onde tudo é festa nos maiores e menores recônditos do Nordeste. Tudo é motivo de festa, de danças, de folguedos, de comidas típicas, de quentão, de forró, de quadrilha. Por onde você anda, se depara com um casal atracado em abraços em danças ou uma fogueira no caminho. Pra que mais empolgante do que sentir no ar esse cheiro, ou bem dizer, esse som de abraços, de danças, de músicas e de coisa deliciosas.
Mas o que quero ressaltar é o mês de julho que nele todas as festas anteriores terminam. Será? Não, o mês de junho, as festas juninas são “julhinas” – não sei se existe a palavra - continuam ainda, pois são férias para muitos, e no meio desse “furdunço”, lá no sertão central do Ceará, numa quadra coberta de um Liceu, homens e mulheres sorriem e se congratulam por esse período tão majestoso. A Calçados Senador Pompeu, numa atitude de alavancar ímpetos e auto-estimas, a partir de equipes muito bem equilibradas, foge do junho e entra no julho com uma festa de ficar na história. Funcionários se desdobram como uma forma de dizer pra si e para tantos que, mesmo em crises de entressafra na área de calçados, vale a pena sorrir, festejar. Naquele momento, numa euforia desenfreada, por diminuto que fosse o tempo, esqueceu-se da crise e dos entremeios onde o “bicho” enfurecido e munido de enorme facão a decepar cabeças e espantar alegrias tentasse afastar tudo isso dos merecidos trabalhadores.
Quermesse, concurso de rainha e princesa, quadrilha e forró ao som de pé de serra abrilhantaram a festa. Foi descontraído, onde se viam sorrisos dos mais largos nos rostos dos que faziam e contribuíam para tudo acontecer como foi.
Sem sofisma e sem sofreguidão espalho essa notícia como um doce ensejo para enaltecer a todos, sem exceção. Enaltecer um ou outro, não, mas a todos, de ponta a ponta, a partir da idéia principal e a aquela final: o ápice, o cume, o sucesso.
Mas, como todos têm suas tendências, me contradigo: a quadrilha foi o que porventura não poderia deixar de ser. Se houve erros, não os vi; se houve moleza de alguns, nem isso; se houve atraso em tudo, somos brasileiros. O que houve foi uma dedicação que pode ser visto com outros olhos. Parabéns a todos.

Obs.: Ainda ressoam os murmúrios disso tudo em Senador Pompeu. Quem sabe a partir daí se inicie uma etapa diferente na história desse lugar?

sábado, 5 de julho de 2008

ANSIEDADE



Temo pelo que há de vir, o porvir, a morte. Acredito que não só eu, mas todos os mortais. Todos, quase sem exceção, sentem-se assim, indiscriminadamente temerosos pelo que há de vir, absolutamente. Não quero com isso demonstrar nessas palavras semanais – aliás, estive ausente por bom tempo – uma dose, uma pitada de pessimismo. É porque o mundo de hoje e em cada esquina se mostra traquino, inconseqüente por conta das misérias, do medo, da violência golpeante. Mas, não quero paginar esse preâmbulo assim tão verossímil, mas cauteloso, senão.
Estou no ônibus, como sempre digo, semanalmente. Por isso, observações de bordo vem à tona uma nova vez agora com outros olhos. E tento ou enxergo mesmo quase todos os movimentos dos passageiros nessas viagens de dez horas. Entre uma música do mp4 colado nos ouvidos, ou uma leitura de um livro em pleno solavanco – vou de encontro às normas de saúde para minhas retinas – assisto a todos os tipos de ações, vozes e compulsões de tantos. Vejo gente simples, gente besta, gente. Vejo vômitos de mulheres enjoadas derramarem-se em assentos, em corredores, em sacos plásticos, nos pais até. Vejo reclamações de freios estridentes, de bagagens que foram trocadas, de celulares que tilintam em demasia, principalmente quando o veículo está prestes a chegar aos destinos. E é aí que me finco e retrato esta crônica: a ansiedade.
Por que – me pergunto – boa parte dos passageiros não agüentam de ansiedade ao ver que sua parada está bem ali? Não agüentam em permanecer sentadas enquanto o veículo pára? Antes mesmo que o último freio seja acionado, já tantos estão quase no colo do motorista, querem chegar primeiro do que o ônibus. Na rodoviária, principalmente, os corredores ficam lotados de gente em pé. Ora, todos sabem que ali é o final para eles, e por que não permanecem sentados até o final? Seria o caso de não mais suportarem tanto tempo na climatização do veiculo, ou do enjôo que arrancou quase as tripas durante o percurso da viagem? Mas nem todos enjoam, nem todos se cansam. O que se nota é aquela vontade enorme de estar em terra firme. E fico pensando como seriam essas pessoas num avião. Em pé, seguros por um bastão esperando a aterrissagem.
Ansiedade, tempos modernos, tempos de loucura, de medo do que virá, de terror ante as próximas horas. O que se vê são pessoas ansiosas, apressadas e muitas com o gosto de estar em vantagem sobre as outras. Descer primeiro significa ganhar tempo, ser o primeiro de uma fila inconcebível. Não sabem elas que a morte escolheu a todos, somente a ela lhe cabe o dia, a hora e o local? Mas parecem que muitos querem se antecipar a isso, mas eu não, nem tão cedo espero encontrá-la, mesmo sabendo que o final da linha está ali, na rodoviária. Prefiro ser o último, com certeza e descer tranqüilo, sem pressa.