quarta-feira, 16 de julho de 2014

POESIAS: O RESTO É MAR 1

Entre um texto e outro, salvaguardado pelo cansaço e muitas vezes por falta de inspiração, transpiração, eis que surge a vontade de escrever poesias. Surgiu a ideia de, aleatoriamente, rabiscar alguns versos, que não são versos, nem rimas, mas palavras buscadas e rebuscadas, umas sobre as outras. São palavras quase amórficas, porque não as gosto tanto, mas vez e outra me pego a
rabiscá-las.
O mar sempre é um tema dito a gritos nos quatro cantos e ventos, de forma mais simplória e a tantas perfeitas, e eu pensei em buscar outra maneira. As referências ao mar talvez não seja o MAR, mas o que está à sua volta, quer dizer, aos seus pés, à praia, às gentes, aos amantes, a areia, à brisa, aos bichos, às pedras, etc. Queria ver o mar não com os olhos cheios d´agua, mas de alma traquejada pelo gosto mais sublime. Ninguém como Dorival Caymmi para falar do mar, da jangada, das mulheres e dos cantos, além claro de Jorge Amado. Eu falo da forma intrínseca, subalterno, rápido, de um fôlego: pronto.
São tantas que hoje referencio a:



PROFUNDIDADE

http://mensagens.culturamix.com/frases/mensagens-sobre-o-mar

Nada como antigamente,
Quando o sol se foi.

Nada como de agora,
Quando a maré invade:

As bocas, os beijos, as mãos;
As têmporas vermelhas,
Os sais entre as saias,
Os malefícios da mente,
E os dedos em ristes.

Nada como agora,
Quando o sol se vai,
Sombras e mais sombras
Nas areias, nas marés.
Nos pés descalços,
E nos corações serenados.

segunda-feira, 14 de julho de 2014


C_Anchieta Mendes

TEMPOS DEPOIS
Por que, depois de vinte e seis anos ainda és páginas lidas,
És um mar dentro de mim?
Por que, depois de vinte e seis anos és um livro na estante,
Onde sempre busco relê-lo, mas não faço?
Por que, depois de vinte e seis anos fantasmagoras meus dias,
Como se nunca se foi, empoeirada nas minhas ilusões?
Por que, depois de tantos anos és aquela mulher de sorriso fácil,
De meiguice que somente eu sabia sentir?
Por que, depois de tantas luas e sois ainda me lambes os pensamentos,
Como se nesse instante estivesses ao meu lado, pedindo ajuda?
Por que, depois de tantos carnavais, de tantos sacrifícios, de esquinas viradas,
Uma música toca e tu vens a cantar comigo em um só refrão?
Ah! Pura ilusão, esses anos todos, foram esses anos todos de separação,
Mas basta uma melodia, basta reler os versos, aquele livro inacabado, o disco de vinil ralado,
Que tu vens!

Por que, depois de quase duas décadas ainda me caloras o meu lado,
A estares ao meu lado na sala de tão iluminada?
Por que, depois das minhas primeiras palavras elas ainda invadem meus tímpanos,
Como se fosse hoje, aqui, nesse fim de mundo, nessa solidão?
Por que Deus meu um ser tão perto, fugiu-me de repente na escuridão,
Quando, naquele tempo, o mundo era outro e a felicidade, sofreguidão?
Por que amei tanto teu corpo, sem necessidade de tocá-lo para senti-lo tanto,
Tanto que nem sei ao exato o que me deixava tonto, se ele próximo, ele nunca?
Por que, depois de mil léguas traquejadas o vento ainda sopra sua fragrância,
Respinga em mim água dos cabelos molhados na pressa de chegar?
Por que, depois de tantas caravanas e latidos, vejo por cima dos meus ombros o teu olhar,
Como se estivesse sempre a me perseguir mesmo para nunca me enxergar?
Por que, por que fui eu te beijar naquela ansiedade de rapaz e hoje não esqueço jamais,
Da saliva doce e da língua nervosa que invadiu meu ser?
Por que, por quê?