Tanta gente no meu rumo
Mas eu sempre vou só
Nessa terra desse jeito
Já não sei viver
Deixo tudo deixo nada
Só do tempo eu não posso me livrar
E ele corre para ter meu dia de morrer
Mas se eu tiro do lamento um novo canto
Outra vida vai nascer
Vou achar um novo amor
Vou morrer só quando for
E jogar no meu braço no mundo
Fazer meu outubro de homem
Matar com amor essa dor
Vou
Fazer desse chão minha vida
Meu peito é que era deserto
O mundo já era assim
Tanta gente no meu rumo
Já não sei viver só
Foi um dia e é sem jeito
Que eu vou contar
Certa moça me falando alegria
De repente ressurgiu
Minha história está contada
Vou me despedir.
Outubro, Milton Nascimento
Estou sob uma frondosa árvore num lugar neutro, no meio do nada, a espera do ônibus. O lugarejo é Mineirolândia, município da cidade de Pedra Branca/CE. O ônibus que espero não é aquele costumeiro.
Meio dia e meia, sol escaldante de início de Outubro, uma solidão, mil pensamentos. Sentado num banco de praça, o suor a brilhar na testa, os olhos a amiudar-se pela impetuosidade da luz solar. E dali, avisto um comércio e na porta dele uma mulher. Meu coração não bate forte, mas meus lábios se abrem num sorriso que só eles sabem por que. Cinco anos se passaram ou talvez mais, muito mais. Do lugar não saio, não tenho coragem por várias razões: uma delas a minha atual situação e outra o sol não deixa: o calor insuportável. Penso como a vida é engraçada, como o mundo é pequeno, como tudo isso se mostra para o ser humano da forma mais simples, incontestável.
A moça não me vê, e de longe tento enxergar no seu semblante, como num zoom óptico, nas lâminas dos seus olhos o meu, ou o nosso passado. Revê-la não me traz exuberância de sentidos, mas a sensação pequena de que o ser humano não é nada, visto que o tempo é tudo, pois brinca com todos, faz loucura, e ri, ri muito de todos nós.
Certo dia, a espera desse mesmo ônibus, nesse tempo que já expus, ouvi alguém me chamar. Quando a vi, ela sorriu e perguntou-me se eu estava perdido. Certamente estava, de qualquer forma, embora soubesse do lugar.
Matamos a saudade, falamos do nosso passado, dos dias que nos conhecemos, do amor fortuito que fizemos por uma única vez, e em condições atropeladas. Rimos de nós mesmos, do encontro e desencontro, para chegarmos ali, depois de muito tempo, perdidos. Ela tinha me dito que saíra da cidade natal por outras questões, ex-marido e ali tinha encontrado um novo amor. Olhando ao redor, lembrei-me da época, encontrar um novo amor naquele lugar poderia ser um marco triunfante. Mas, encontra-se um novo amor em qualquer lugar, até mesmo num velório (não com o morto, claro), mas quem sabe com o viúvo ou a viúva. Despedimo-nos com a nossa história: a dela que se cruzou com a minha em poucos dias e a minha que se cruzou com a dela na mesma proporção.
Agora ali, vendo-a de longe, recordo tudo isso. Talvez ela estivesse casada com o amor da sua vida, talvez, sem muitas mudanças. E quanto a mim, bom, muita coisa mudou.
Vendo a música de Milton Nascimento acima, OUTUBRO: bela canção, em alguns trechos caem bem para mim, ou talvez caiam bem para ela e, talvez, muito mais para vocês.
O ônibus aponta na curva.
Mas eu sempre vou só
Nessa terra desse jeito
Já não sei viver
Deixo tudo deixo nada
Só do tempo eu não posso me livrar
E ele corre para ter meu dia de morrer
Mas se eu tiro do lamento um novo canto
Outra vida vai nascer
Vou achar um novo amor
Vou morrer só quando for
E jogar no meu braço no mundo
Fazer meu outubro de homem
Matar com amor essa dor
Vou
Fazer desse chão minha vida
Meu peito é que era deserto
O mundo já era assim
Tanta gente no meu rumo
Já não sei viver só
Foi um dia e é sem jeito
Que eu vou contar
Certa moça me falando alegria
De repente ressurgiu
Minha história está contada
Vou me despedir.
Outubro, Milton Nascimento
Estou sob uma frondosa árvore num lugar neutro, no meio do nada, a espera do ônibus. O lugarejo é Mineirolândia, município da cidade de Pedra Branca/CE. O ônibus que espero não é aquele costumeiro.
Meio dia e meia, sol escaldante de início de Outubro, uma solidão, mil pensamentos. Sentado num banco de praça, o suor a brilhar na testa, os olhos a amiudar-se pela impetuosidade da luz solar. E dali, avisto um comércio e na porta dele uma mulher. Meu coração não bate forte, mas meus lábios se abrem num sorriso que só eles sabem por que. Cinco anos se passaram ou talvez mais, muito mais. Do lugar não saio, não tenho coragem por várias razões: uma delas a minha atual situação e outra o sol não deixa: o calor insuportável. Penso como a vida é engraçada, como o mundo é pequeno, como tudo isso se mostra para o ser humano da forma mais simples, incontestável.
A moça não me vê, e de longe tento enxergar no seu semblante, como num zoom óptico, nas lâminas dos seus olhos o meu, ou o nosso passado. Revê-la não me traz exuberância de sentidos, mas a sensação pequena de que o ser humano não é nada, visto que o tempo é tudo, pois brinca com todos, faz loucura, e ri, ri muito de todos nós.
Certo dia, a espera desse mesmo ônibus, nesse tempo que já expus, ouvi alguém me chamar. Quando a vi, ela sorriu e perguntou-me se eu estava perdido. Certamente estava, de qualquer forma, embora soubesse do lugar.
Matamos a saudade, falamos do nosso passado, dos dias que nos conhecemos, do amor fortuito que fizemos por uma única vez, e em condições atropeladas. Rimos de nós mesmos, do encontro e desencontro, para chegarmos ali, depois de muito tempo, perdidos. Ela tinha me dito que saíra da cidade natal por outras questões, ex-marido e ali tinha encontrado um novo amor. Olhando ao redor, lembrei-me da época, encontrar um novo amor naquele lugar poderia ser um marco triunfante. Mas, encontra-se um novo amor em qualquer lugar, até mesmo num velório (não com o morto, claro), mas quem sabe com o viúvo ou a viúva. Despedimo-nos com a nossa história: a dela que se cruzou com a minha em poucos dias e a minha que se cruzou com a dela na mesma proporção.
Agora ali, vendo-a de longe, recordo tudo isso. Talvez ela estivesse casada com o amor da sua vida, talvez, sem muitas mudanças. E quanto a mim, bom, muita coisa mudou.
Vendo a música de Milton Nascimento acima, OUTUBRO: bela canção, em alguns trechos caem bem para mim, ou talvez caiam bem para ela e, talvez, muito mais para vocês.
O ônibus aponta na curva.