Quem disse que há no mundo mais mulheres do que homem; de que há sete mulheres para cada homem?
Discordo imensamente dessa teoria em que pese o que passo semanalmente ou meses ou anos. Não há mais mulheres do que homens, infelizmente. Isso prova essa minha tese pelo tanto que já passei. Alguém sabiamente ou sexualmente ou economicamente desbravou nos quatro mundos, ou nos quatro cantos do Brasil essa ilegítima ideia.
Ah! Queira Deus que isso fosse verdade, que ao meu lado quatro mulheres, não sete, estivessem nos meus cantos, nos meus delírios, nos meus encantos, ou mais precisamente, nas semanas em que viajo no ônibus tragando seiscentos quilômetros de estradas. Que elas estivessem ao meu lado, na minha frente, atrás, em cima, qualquer lugar, no lugar desses insuportáveis homens, a bem da verdade, quer ver, vejamos:
Se viajo semanalmente por seiscentos quilômetros indo e vindo; por dois mil e quatrocentos quilômetros por mês; por vinte oito mil e oitocentos quilômetros por ano. Se viajo dez horas por semana até chegar ao destino; quarenta horas por mês; quatrocentos e oitenta horas por ano, e se o meu cálculo não me engana, nesse tempo todo, trilhando estradas, comendo quilômetros, gastando-se horas, tenho os meus cálculos:
Sozinho nas duas cadeiras no ano por hora: trinta por cento, ou seja, cento e quarenta e quatro horas;
Com uma mulher, independente se criança, se adolescente, se idosa: um por cento, ou seja, quatro horas e oito minutos;
Com homens: o restante, ou seja, 69% (sessenta e nove por cento).
Onde estão as mulheres? Talvez alguém responda que os homens viajam mais, mas isso não me convence, pois de todos os lados nas viagens vejo mulheres. Vejo mulheres com os seus lençóis, com suas crianças, com seus maridos, sós, divagando, ouvindo mp4, lendo, muitas vezes sozinhas. Vejo mulheres indo ao banheiro, vindo no corredor do ônibus em busca de seu acento, e de duas uma: ou fica na metade do caminho, ou passa por mim para sentar atrás, ou no máximo ao lado, porém noutra fileira de cadeiras.
Por outro lado, quando vejo um gordo (sem preconceito), tremo-me todo, até porque sou magro e tenho a plena convicção de que serei espremido e o resto da viagem sentirei falta de ar e de espaço. Quando vejo um bando de policiais que vez por outro vão à reuniões em Fortaleza, sobrará para mim a cadeira ao lado, que saco. Quando vejo um homem com sua mochila nas costas, ou forte e alto, ele certamente vai sentar-se ao meu lado, e em noventa e nove por cento (essa crônica tem muito de números) das vezes tomará o apoio da cadeira do meio como se ele estivesse só, pois não terá consciência de espaço, porque sentará quase em cima de mim. Quantas vezes ronca ao solavanco do ônibus, que pra ele é música aos ouvidos, e virará o rosto pra mim como se estivesse em plena cama conjugal numa liberdade desvairada.
Tudo isso acontece com os homens.
O um por cento que sobrou das mulheres, nas raridades vem sentar-se ao meu lado, senta-se tão devagar, permanece tão em silêncio, divaga tão senhoril, que penso que ali não tem ninguém. E quando o seu braço, distraidamente, toca o meu, tremo-me todo, porque acho que ali ao meu lado há um anjo, um fantasma e que não acredito piamente se ali é uma mulher ou na pior das hipóteses um travesti: sei lá!