Alquimia
“Em rápidos flashes
vieram ao mundo as faces inebriantes das amadas e das ingratas mulheres da
minha vida.”
Esguia
madalena
Maledicência
Naquelas
carnes entreguei-me como um cão, a arder dentes e olhos. Depois perdi esses
dentes e ceguei-me. Hoje sem a arte de roer, e de óculos de lentes graduais,
não tenho ideia de como vivo. Trágico-morto. Esclareço: Madalena chegou como a
chuva de verão nordestino, sem avisar. Pelo vidro do copo de cerveja, vi entrar
no bar a medonha. Considero não ter visto olhos, nem cabelos, nem pernas, mas
peitos, muitos peitos. Como bezerro desmamado, a mungir como bicho temeroso da
morte, Madalena veio a perceber. Sorriu a desgraçada. Não sei o que ela viu em
mim, pois nada tenho de especial. Talvez
o fato de olhar feito cachorro quizilento. Chamo atenção é bem verdade. Mais
pela feiúra do que me resta de brilho. Madalena ficou a espreita, de olhos em
mim, ou de peitos em mim? Embriagado pela espuma da cerveja, não me atrevi.
Eustáquio, velho amigo de guerra, prestou atenção nesse impasse. “Não me venha
dizer que vai perder.” Era melhor ter perdido, ou apostado na existência do
diabo. Vi-me dançando com Madalena. Embriaguez dupla. Não me atentei pelo fato.
Nenhum bêbado sabe dizê-lo, nunca tem ideias próprias, sequer pernas. Madalena
sabia o que fazia. Enlaçou-me com pernas e peitos. Botou-me mandinga. Chegou a
encruzilhar galinha preta e vela de sete dias. Isso depois de algum tempo. Digo
mais tarde, em outra oportunidade.
Madalena
como égua no cio veio. Trocamos copos de cerveja, salivas e poucas palavras.
Não chamei, não foi preciso. O olhar falou tudo. Madalena, durante a noite e a
madrugada não falou dezenas de palavras, apenas olhava e ria. Não puxei
conversa pordemais. Lembro ter dito entre uma música e outra: “vamos dançar?”.
Por isso, pernas e peitos agarraram-me. Houve tempo de inércia. Não sabia a
fazer. Madalena sabia. Rodopiou-me pelo salão aos risos. Soltou-me no meio da
madrugada. Desapareceu quando um homem de grossos bigodes surgiu. Lembro-me do
braço de Madalena a fugir na mão direita do homem.
Desde esse
tempo o bar era minha segunda casa. Nunca mais vi a medonha. O meu amigo
Eustáquio uma noite me falou: “Não me venha dizer que vai perder”. Parecia um
disco arranhado. Tinha perdido a danada da mulher, de seios fartos, de olhos
graúdos, de cabelos alourados. Vim a memorizar seus traços tempos depois. A memória
foi-me amiga. Trouxe a noite inteira nos meus braços a dançarina inquieta. Na
hora não me atentei.
Certa noite,
no bar quase às escuras, e entre os mesmos copos de cerveja, uma mulher entrou.
Carregava consigo um sujeito, e não sei por que, não reparei bem na mulher, e
ambos se aproximavam da minha mesa. O cara deixou a mulher para trás, cercou-me
como quem queria tirar-me para dançar. Pediu para levantar-me. Obedeci,
intrigado, e em seguida entre os olhos a dor de um soco. Se o bar estava às
escuras, o mundo entrou em blackout. Antes do soco ser desferido, o tal negro
disse em tom de escárnio: “Namorar minha mulher é pedir para morrer”.
“Maledicência!”. Foi a única palavra que me veio à boca e aos poucos sentidos.
(Este é
o primeiro capítulo de 04 tomos em que a história se vereda pelas
quatro mulheres na vida da personagem em primeia pessoa. Será o novo
romance que ainda está por acabar e espero lançar ainda este ano 2013)