Mais um dia, mais uma semana nas viagens em que me envolvo com meu trabalho, com o ônibus e com a paisagem. Paisagem esta já bem conhecida. Mas hoje tenho uma vontade danada de ficar calado, de ficar introspectivo e vislumbrar somente a paisagem, como também da janela tirar fotos. Tenho uma sensibilidade ótica incrível por casas antigas, da mais simples a mais sofisticada. Cada uma que me aparece na beira da estrada ou longínqua, solitária num sopé de serra, à beira de um açude, escondida por frondosas árvores, chamam-me a atenção. Olho e me vêm à mente locais pitorescos, diferentes, simples e que me invadem numa forma de imaginar aquelas pessoas morando ali, sua rotina, seus dias. Muitas vezes vejo gente nas janelas, no sopé da porta, varrendo o terreiro, no oitão. Outras já velhas, sentadas em cadeiras preguiçosas, pitando, esbaforindo ao ar fumaças antigas. Veio-me à mente o poema de Vinícius de Moraes e Chico Buarque: “Gente Humilde”, onde diz:
Tem certos dias/ em que eu penso em minha gente/ e sinto assim/Todo o meu peito se apertar/Porque parece/Que acontece de repente/Feito um desejo de eu viver/Sem me notar/Igual a como/Quando eu passo no subúrbio/Eu muito bem/vindo de trem de algum lugar/e aí me dá/Como uma inveja dessa gente/Que vai em frente/Sem nem ter com quem contar/São casas simples/Com cadeiras na calçada/E na fachada/Escrito em cima que é um lar/Pela varanda/Flores tristes e baldias/Como a alegria/Que não tem onde encostar/E aí me dá uma tristeza/No meu peito/Feito um despeito/De eu não ter como lutar/E eu que não creio/Peço a Deus por minha gente/É gente humilde/Que vontade de chorar.
Como no poema, vejo essas casas humildes, essa gente simples, sentada na varanda, por sob uma latada de palha, esperando a morte, mas antes olhando o mundo da estrada, do movimento, das andorinhas e sentindo o vento nos cabelos.
Bem longe avisto outras casas sumidas e imagino seus habitantes na luta pela sobrevivência. Cá na cidade se tem o ditado de que se precisa matar um leão por dia, e no campo, que bicho se deve lutar para não ser devorado?
Vejo que mesmo assim com humildade e tudo, sorrisos, uma satisfação e “que vão em frente” sempre, comparo ao que disse Euclides da Cunha: “O nordestino acima de tudo é um forte”. Uma fortaleza de fazer inveja, mesmo que nos olhos se marejem lágrimas de dor, ele não desiste nunca.
Voltando ás casas, olho-as todas, e quantas de janelas abertas para o mundo e no avançar do ônibus, ainda enxergo no seu interior, imaginativamente, palpitar de corações. Lembro-me que vi uma criança simples, de pés descalços, uma boneca nos braços, um olhar no mundo à sua frente, e imaginei o futuro dela. Que futuro, para onde iria, os sonhos a realizarem. Vejo agora, também, uma escola no alto. Hora do intervalo, crianças jogando bola,e penso: quantas dessa gente vão dali sair um doutor, um político, um empresário ou mais um nordestino em São Paulo?
Volto os olhos para o interior do veículo e observo que poucas ou nenhuma pessoa têm olhos para essa paisagem. Cansadas?
Tem certos dias/ em que eu penso em minha gente/ e sinto assim/Todo o meu peito se apertar/Porque parece/Que acontece de repente/Feito um desejo de eu viver/Sem me notar/Igual a como/Quando eu passo no subúrbio/Eu muito bem/vindo de trem de algum lugar/e aí me dá/Como uma inveja dessa gente/Que vai em frente/Sem nem ter com quem contar/São casas simples/Com cadeiras na calçada/E na fachada/Escrito em cima que é um lar/Pela varanda/Flores tristes e baldias/Como a alegria/Que não tem onde encostar/E aí me dá uma tristeza/No meu peito/Feito um despeito/De eu não ter como lutar/E eu que não creio/Peço a Deus por minha gente/É gente humilde/Que vontade de chorar.
Como no poema, vejo essas casas humildes, essa gente simples, sentada na varanda, por sob uma latada de palha, esperando a morte, mas antes olhando o mundo da estrada, do movimento, das andorinhas e sentindo o vento nos cabelos.
Bem longe avisto outras casas sumidas e imagino seus habitantes na luta pela sobrevivência. Cá na cidade se tem o ditado de que se precisa matar um leão por dia, e no campo, que bicho se deve lutar para não ser devorado?
Vejo que mesmo assim com humildade e tudo, sorrisos, uma satisfação e “que vão em frente” sempre, comparo ao que disse Euclides da Cunha: “O nordestino acima de tudo é um forte”. Uma fortaleza de fazer inveja, mesmo que nos olhos se marejem lágrimas de dor, ele não desiste nunca.
Voltando ás casas, olho-as todas, e quantas de janelas abertas para o mundo e no avançar do ônibus, ainda enxergo no seu interior, imaginativamente, palpitar de corações. Lembro-me que vi uma criança simples, de pés descalços, uma boneca nos braços, um olhar no mundo à sua frente, e imaginei o futuro dela. Que futuro, para onde iria, os sonhos a realizarem. Vejo agora, também, uma escola no alto. Hora do intervalo, crianças jogando bola,e penso: quantas dessa gente vão dali sair um doutor, um político, um empresário ou mais um nordestino em São Paulo?
Volto os olhos para o interior do veículo e observo que poucas ou nenhuma pessoa têm olhos para essa paisagem. Cansadas?