”São quatro jogadores, nesta mesa
Frente a frente para jogar (...)
São quatro jogadores, nesta mesa
Dando as cartas, no jogo surdo da vida.”
Xangai, Kukukaya
São quatro pessoas a espera de um ônibus. Quatro felizes almas que buscam, separadamente, o seu destino. A espera torna-se longa. O ônibus certamente está atasado. Não é da primeira vez e acredita-se que não será a última. Mas vale a pena traçar os quatro perfis dessas pessoas a espera de uma condução que as conduzirá a seus destinos. Ao meu ver todas com ansiedade num nervosismo peculiar de quem sempre está apressado, numa agonia incontida, porque se sabe que esperar não é uma virtude do brasileiro, que, aliás, espera tanto e em tantas ocasiões, como filas de banco, de lotérica, da esperança de dias melhores, da aposentadoria ou do amor que nunca veio.
Uma delas espera ansiosa que o ônibus venha logo porque a mãe que ficou na cidade destino vai estar só, doente e necessitada da presença da filha; não espera sentada, porque cansa e maltrada os nervos. Trás nos gestos e na voz característica de uma jovem que vive todos os minutos da vida e os acha preciosos, não pelo fato de deixar logo o lugar de onde estava, mas para estar sentada numa poltrona do ônibus e que a levasse para o destino final e que fosse bem. Em casa a mãe com problemas de artrose a esperava, acredita-se, também ansiosa. Certamente a filha era muito importante, não pelo fato de ser somente filha, mas por ela ser amável e carinhosa. De todas as pessos a espera, era a mais inquieta, nervosa, caminhando de um lado a outro, olhando de quando em vez para o sentido de onde o ônibus vinha. Sorria de vez em quando, era verdade, mais para esconder o fato da espera. Deixou na cidade de origem o seu amor recente, entregue aos dias da sua ausência, pelo menos por um dia e meio, não sabendo ele que esses dias iriam ser estendidos por uma folga do trabalho ampliada. A segunda personagem, também mulher, não espera em pé, pois consegue deixar estar sentada e aguarda o ônibus também nervosa porque precisa estar numa reunião de empresa, embora a reunião seja ainda para outro dia; nesse tempo então de ansiedade e palavras saltitantes aos lábios e ouvidos, ela deixa escapar o passado da vida, onde tivera vivido dias de angústia e aquele trabalho atual a fazia de uma pessoa realizada. Achava-se importante por sentir-se útil num trabalho que a elevava como pessoa e como mulher. Aliás, única como vendedora em meio a tantos homens. Sentia-se por deveras envolvida por uma áurea de brilho porque por ser única também o era por uma questão de sobrevivência e por gosto pela profissão. Sua voz, aos comentários aleatórios, eram bem traçada com bastante autonomia, todavia a espera pela condução a trazia de volta pelo desespero da espera e do cansaço antecipado. No fragor dos seus jovens anos e do seu olhar alviçareiro traduziam numa mulher preparada e sabedora do que queria. A terceira mulher triangulava o cenário numa calma sem medida em relação as outras duas. Não falava, não transpirava e nem sequer se maldizia. Para ela em relação as outras o ônibus estava ainda no horário. Trabalhava representando produtos de beleza. Certamente representar beleza parecia precisar de nervos, de aparentar calma e deixar no semblante traços dos produtos como uma excelente representante dos mesmos. Outra pessoa, claro, era eu que fechava os quatro numa espera que, pelo tempo, estava nos deixando agoniados. Resultado: o ônibus tinha ficado pela estrada com defeito. Esperava-se então outro que estava por vir, daí a demora incondicional.
São quatro personagens com destinos semelhantes, embora com finais em separado. Do meu ponto de vista, do meu ângulo quase incontrolável, as vejo num diferencial medido. São jovens, são mulheres, são pessoas com suas vidas bem delineadas em busca sempre do amanhã. São viajantes como eu e são esperançosas como tantos outros. Num jogo de cartas na mesa, como na música acima, e aí me incluo, são quatro jogadores envoltos da mesa da vida em busca de ganhar, de vitória e de dias que sempre sejam páginas preenchidas por letras vistas e revistas. São quatro jogadores com palavras fáceis num jogo surdo da vida, embora as duas primeiras não parassem nunca de trazer sons aos tímpanos. São quatro pessoas com olhos de futuro, com mãos crispadas pelo gosto apetitoso pelo avanço dos dias e pela busca dos sabores deles. São quatro viajantes com sorrisos fáceis, apesar da espera agoniada, embora no fundo se saiba que quem espera sempre alcança, independente do tempo.
O ônibus chegou para abrir o sorriso de todos.
Xangai, Kukukaya
São quatro pessoas a espera de um ônibus. Quatro felizes almas que buscam, separadamente, o seu destino. A espera torna-se longa. O ônibus certamente está atasado. Não é da primeira vez e acredita-se que não será a última. Mas vale a pena traçar os quatro perfis dessas pessoas a espera de uma condução que as conduzirá a seus destinos. Ao meu ver todas com ansiedade num nervosismo peculiar de quem sempre está apressado, numa agonia incontida, porque se sabe que esperar não é uma virtude do brasileiro, que, aliás, espera tanto e em tantas ocasiões, como filas de banco, de lotérica, da esperança de dias melhores, da aposentadoria ou do amor que nunca veio.
Uma delas espera ansiosa que o ônibus venha logo porque a mãe que ficou na cidade destino vai estar só, doente e necessitada da presença da filha; não espera sentada, porque cansa e maltrada os nervos. Trás nos gestos e na voz característica de uma jovem que vive todos os minutos da vida e os acha preciosos, não pelo fato de deixar logo o lugar de onde estava, mas para estar sentada numa poltrona do ônibus e que a levasse para o destino final e que fosse bem. Em casa a mãe com problemas de artrose a esperava, acredita-se, também ansiosa. Certamente a filha era muito importante, não pelo fato de ser somente filha, mas por ela ser amável e carinhosa. De todas as pessos a espera, era a mais inquieta, nervosa, caminhando de um lado a outro, olhando de quando em vez para o sentido de onde o ônibus vinha. Sorria de vez em quando, era verdade, mais para esconder o fato da espera. Deixou na cidade de origem o seu amor recente, entregue aos dias da sua ausência, pelo menos por um dia e meio, não sabendo ele que esses dias iriam ser estendidos por uma folga do trabalho ampliada. A segunda personagem, também mulher, não espera em pé, pois consegue deixar estar sentada e aguarda o ônibus também nervosa porque precisa estar numa reunião de empresa, embora a reunião seja ainda para outro dia; nesse tempo então de ansiedade e palavras saltitantes aos lábios e ouvidos, ela deixa escapar o passado da vida, onde tivera vivido dias de angústia e aquele trabalho atual a fazia de uma pessoa realizada. Achava-se importante por sentir-se útil num trabalho que a elevava como pessoa e como mulher. Aliás, única como vendedora em meio a tantos homens. Sentia-se por deveras envolvida por uma áurea de brilho porque por ser única também o era por uma questão de sobrevivência e por gosto pela profissão. Sua voz, aos comentários aleatórios, eram bem traçada com bastante autonomia, todavia a espera pela condução a trazia de volta pelo desespero da espera e do cansaço antecipado. No fragor dos seus jovens anos e do seu olhar alviçareiro traduziam numa mulher preparada e sabedora do que queria. A terceira mulher triangulava o cenário numa calma sem medida em relação as outras duas. Não falava, não transpirava e nem sequer se maldizia. Para ela em relação as outras o ônibus estava ainda no horário. Trabalhava representando produtos de beleza. Certamente representar beleza parecia precisar de nervos, de aparentar calma e deixar no semblante traços dos produtos como uma excelente representante dos mesmos. Outra pessoa, claro, era eu que fechava os quatro numa espera que, pelo tempo, estava nos deixando agoniados. Resultado: o ônibus tinha ficado pela estrada com defeito. Esperava-se então outro que estava por vir, daí a demora incondicional.
São quatro personagens com destinos semelhantes, embora com finais em separado. Do meu ponto de vista, do meu ângulo quase incontrolável, as vejo num diferencial medido. São jovens, são mulheres, são pessoas com suas vidas bem delineadas em busca sempre do amanhã. São viajantes como eu e são esperançosas como tantos outros. Num jogo de cartas na mesa, como na música acima, e aí me incluo, são quatro jogadores envoltos da mesa da vida em busca de ganhar, de vitória e de dias que sempre sejam páginas preenchidas por letras vistas e revistas. São quatro jogadores com palavras fáceis num jogo surdo da vida, embora as duas primeiras não parassem nunca de trazer sons aos tímpanos. São quatro pessoas com olhos de futuro, com mãos crispadas pelo gosto apetitoso pelo avanço dos dias e pela busca dos sabores deles. São quatro viajantes com sorrisos fáceis, apesar da espera agoniada, embora no fundo se saiba que quem espera sempre alcança, independente do tempo.
O ônibus chegou para abrir o sorriso de todos.
Um comentário:
meu amor parabén essa foi maravilhosa, e o mais inreresante é qeu o escritor estava no final dessa crônica máguinifica e tão real e sabe quem é ele? Anchieta Mendes o grande.
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