"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer." ( Graciliano Ramos )
Acredito que os conterrâneos de Graciliano Ramos sentem-se honrados, orgulhosos de ter compartilhado o convívio do literato, sentir a presença tão marcante de um dos maiores escritores brasileiros e nordestinos.
Quando entrei no casarão – hoje museu – tive a sensação de ter percorrido anos ao lado do escritor. Cada fotografia, cada palmo de terra, uma cadeira de palhinha, um birô, roupas de dormir quando ele estava doente, livros de primeiras edições, os cigarros que gostava de fumar, as piteiras, conjunto de barbear, canetas e uma máquina de escrever. Mais precisamente a máquina de escrever que me chamou mais a atenção, se bem que o mesmo gostava de escrever no auge da inspiração à mão, para depois repassar a limpo pela máquina. Vi-me sentado no seu birô a escrever as coisas de hoje com aquela máquina, a responsabilidade em datilografar cada letra, sem preguiça, com esforço, até porque hoje temos uma facilidade enorme com o computador. Senti o cansaço em dedar cada tipo num afã de chegar ao resultado final. E sabendo que o escritor escrevia à mão, num esforço em enegrecer o papel em branco de qualquer forma.
Hoje, vejo as facilidades no manejo da sofisticação, porém não se vê tanto brilhantismo na escrita, em vários aspectos.
Voltando à casa de Graciliano Ramos, o aspecto é claro, azulado (portas e janelas pintadas de azul), uma sombra de nostalgia, cultura e sossego. Se ficasse ali por mais tempo, certamente não veria o tempo passar. A noite chegaria mansa, os raios da lua entraria pela única janela aberta e não me surpreenderia. Estaria eu submerso num ambiente totalmente à parte do mundo e de todos. O que viria era somente um homem e seus rascunhos, seus retratos, suas vidas secas, suas angústias, sua infância, são Bernardo estereotipado, caetés mais de perto, e tentaria desvendar em cada palavra, em cada sílaba, em cada frase um mundo atípico, longe, muito longe.
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