quinta-feira, 24 de março de 2011

OLÁ, CARLOS

 Aqui quem vos fala somos nós, companheiros de trabalho, seus amigos, amigas, filhos, esposa e familiares. Somos todos oriundos de um mundo em que você fez parte, de forma tão passageira, de maneira tão ímpar, tão espetacular que já nos dá saudades.


Veja, estamos sentados num lugar isolados, cada um a pensar a sua maneira, mas todos enfocados na sua vida. É praxe, numa conversa, falarmos do passado, do presente ou do futuro. Então, sobre o passado é fato relembrarmos aquele ano de 2002, em que você se aportou aqui em Senador Pompeu para nunca mais sair. Foi um ano que você, temos certeza, apostou no futuro. Vislumbrou a cidade, talvez tenha achado estranha e quando se deu conta, tornou-se cearense de pele e de sangue. Pele por trazê-la nordestina; sangue por amar essa terra e sua gente. Na estranheza do lugar, aos poucos foi cativando as pessoas com seu sorriso, seus galanteios, seu sotaque carioca. Quando percebemos a sua figura de gerente de fábrica, apenas era uma simbologia para as grandes amizades que conquistou. Quando percebemos mais ainda, vimos um homem com seus defeitos, mas, sobretudo, com sua glória em ser humilde, reverente e solidário com todos nós.

Pois é, Carlos. Se estamos sentados aqui a conversarmos, iremos longe. Mas cada um tem a sua visão, o seu enfoque em lembrar-lhe daquele passado soberbo e inesquecível. Sempre ao passarmos pelas ruas de Senador, pelos bares, pela Pizzaria, pela Praça da Juventude, pela Rua Grande, pela Fábrica, pelas Palmilhas, vislumbrar-lhe-emos como foi especial a sua amizade, a sua vida para todos nós. Temos certeza que todos que estamos a conversarmos contigo tem uma memória sua, um canto reservado na mente e no coração o quanto sua presença foi importante.

Sobre o Presente, sentimos dor, Carlos. Pois é, o que temos que sentir além da dor...? Saudades, muitas saudades. Em tudo que falamos, sobre tudo que respiramos, em relação ao que pensamos, você está presente. Se olhamos um para o outro nesse recanto santo, vemos a ti, sentimos a sua presença. Se lágrimas as temos, se gargantas sangram, se corações palpitam tanto, é a sua presença, nada mais. Não é fácil você partir assim, sem mais nem menos. Pensamos até que foi à Crateús, para um passeio, ou a Fortaleza a negócios, mas, sentimos a realidade palpável de que estamos enganados, mas vamos pensar assim, de que você tomou um ônibus da FretCar, esquecido das malas, dos seus, sentou na ultima poltrona, recostou a cabeça no encosto, lançou um último olhar para a Matriz, para a linha férrea, para o giradouro e fechou os olhos lentamente, cansado de mais um dia, e dormiu.

E o Futuro? Ao acordar, Carlos, lembre-se de nós, porque aqui o futuro está no sangue dos seus filhos, nas obras que deixou, nas amizades infindas, na perpetuação das lembranças em tudo que materializou as suas ações.

Pois é, Negão, dorme, balança nos braços do Senhor e que os sonhos sejam sempre eternos.



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